domingo, 17 de janeiro de 2010

Entrevista com Monja Coen


No tempo em que eu trabalhava na Sato Comunicação, a gente fazia um jornal interno chamado "OMugido", para a Famasul. Neste jornal a gente falava tanto dos fatos ocorridos na Casa Rural como de assuntos aleatórios, abordávamos temas bem diversos. Certa vez, para falar de relações humanas, optamos por entrevistar a Monja Coen, uma mulher muito cabeça. Enviei as perguntas por email, porque ela mora fora do estado. O resultado segue abaixo...

Nesta entrevista concedida à André Patroni, por email, Monja Coen fala sobre mudanças ao nosso redor e mais: como podemos mudar sem tropeçar nos outros, e nos desejos deles. Relaxe, e leia sem pressa.

O Mugido: Como podemos aceitar melhor as pessoas ao nosso redor? Se no mundo há tantas desavenças, como, numa instituição de trabalho cheio das pressões mundanas, podemos ser compreensivos com nossos semelhantes?

Monja: Estamos todos interconectados, interligados. Somos a vida da terra. Entretanto cada pessoa e cada grupo de pessoas tem seu papel no individual e no coletivo. Não há nada errado em haver dois grupos. Competir é natural. Competir para mostrar nosso melhor e provocar o melhor no outro. Não se acomodar. Mas não odiar nem rebaixar os outros.Quando reconhecemos no outro um aspecto de nós mesmos começamos a cuidar com respeito e ternura.

O Mugido:Você tem parentesco com integrantes da banda “MUTANTES”, já que nosso assunto é mudanças, diga: analisando a si mesma, você se considera uma pessoa em constante transformação, uma “mutante”, uma “metamorfose ambulante”?

Monja: Somos mutantes. Somos a mudança, a metamorfose, a transformação. Agora, podemos escolher a direção, o caminho de nossa transformação. Depende do que fazemos, falamos,pensamos. Nada se mantem o mesmo. Tudo se transforma. A Terra girando e todo o Universo se movendo. Somos essa vida. Não viemos de fora, não iremos para fora.

O Mugido: Sei que você gosta da frase de Gandhi “Seja a transformação que deseja ver no mundo”. Como aconselharia àqueles que acreditam que suas vidas sejam comuns, a fazer essa diferença, a transformarem-se na própria transformação que querem do planeta?

Monja: Cada uma de nós é importante e o que fazemos altera a vida na Terra. Somos uma rede de fios luminosos onde em cada interseção há uma jóia luminosa espandindo luz em todas as direções. Somos essa luz. Onde quer que toquemos estamos interferindo, mexendo na rede. Assim como somos tocados por tudo que acontece no mundo. Quando cada um de nós, cada uma de nós se torna um átomos de paz, um átomo de não violência ativa, toda a humanidade caminha e se move nessa direção. Não podemos nos omitir. É importante participar e se manifestar. Somos a transformação, que sejamos para o bem de todos os seres.

O Mugido: Qual a mudança mais expressiva que aconteceu na sua vida? Como você aprendeu a aceitá-la?

Monja:Estou aprendendo a conviver com a velhice nos meus sessenta e dois anos de idade. Aceitando meu corpo mais frágil e ao mesmo tempo fazendo atividade física e Yoga para a saúde. Corpo-mente-espírito integrados. Cuidar para poder cuidar.

O Mugido: Li que você acredita que o caminho para a verdadeira felicidade é pleno de transformações. Mas, qual o primeiro passo para compreendermos essas transformações como parte do caminho?

Monja: Fazer o bem, fazer o bem a todos os seres. Não se importar em ser reconhecida por fazer o bem e não deixar de o fazer mesmo quando rechaçada.

O Mugido: O ser humano, como dizem, não sabe lidar com a ideia de caos, por isso cria regras, rotinas, estabelece crenças e planos. De que maneira a senhora acredita que podemos nos preparar para os momentos de caos?

Monja: Nada é seguro - esta é uma frase de Xaquiamuni Buda. Não há nada seguro. Não há nada no que possamos segurar e nos agarrar. Tudo se transforma. O que nasce inevitavelmente morre. E nessa teia, aparentemente caótica, vivemos cada instante em plenitude, sem economizar os ingredientes de nossa vida. Sem medo. Sem agressões. Intersendo.

O Mugido: Para finalizar, peço que a senhora deixe um conselho para essas pessoas, que trabalham todos os dias em um ambiente de escritório, em frente aos seus computadores e que nem sempre param para perceber coisas simples da vida, como, por exemplo, o azul do céu (não por falta de vontade, mas porque o mundo lhes ensinou que existem coisas mais “importantes” que ficar por aí caçando dor de pescoço de tanto olhar pra cima).

Monja: De hora em hora respire conscientemente, levante sua face, endireite a coluna, olhe para o céu e veja seu local na imensidão do universo. É preciso ter pausas, zerar a máquina para poder recomeçar melhor e tornar-se mais hábil para criar. Nada se repete e podemos ter, em cada instante, novas respostas e um novo olhar para a vida, Céu azul, folhas verdes, terra amada terra pura nosso corpo comum - estamos cuidando para podermos ser cuidadas? Perceba que vamos morrer e ao mesmo tempo como é maravilhoso viver e apreciar esta simples existência humana. O que fazemos mexe no todo.

André Patroni - Sato Comunicação