segunda-feira, 25 de abril de 2011

Discurso da formatura

Em março colei grau e me formei jornalista. As reflexões em decorrência disso eu posto aqui mais pra frente, ou não. Esse post na verdade é pra reativar esse blog que faz mais de um ano está parado. Toda vez que venho vê-lo me deparo com a foto da Monja Coen e isso me lembra que não o atualizo há muito muito tempo, aquele texto escrevi na época que estagiava na Sato Comunicação, nem na TV Morena tinha entrado (e olha que lá eu fiquei um ano).

Outro motivo é que agora tenho um texto que pode figurar por aqui. Não peguei o jeito de escrever periodicamente pra um blog, então fica difícil atualizá-lo. Tendo em vista isso, minha amiga Lais, que se formou comigo, sugeriu que postasse meu discurso da cerimônia de colação de grau, que fiz em homenagem aos pais ausentes. Teve um pessoal que curtiu as palavras então pode ser que você que passar por aqui também goste.

Infelizmente não sei se alguém filmou, queria mesmo ver, não por narcisismo, mas porque deve ter sido hilário ver um formando cantando a musiquinha do Silvio Santos, ainda mais por ser eu esse universitário. Haha. Espero que a empresa que a comissão de formatura contratou não dilacere o discurso, queria mesmo vê-lo inteiro.

Enfim, está aí o discurso! Espero que venha até você no momento certo.

Ah, só pra explicar, como eu não queria fazer um texto que deixasse as pessoas mais pra baixo que alguém que perdeu um parente, e para quebrar o gelo de um discurso frente a uma grande plateia, comecei de um jeito um tanto inusitado...

Eis o texto do discurso:

Lá lá lá lá Êi!
Lá lá lá lá Êi!
Lá lá lá lá lá lálálálálá Êi!
Agora é hora de alegria
Vamos sorrir e cantar
Da vida não se leva nada
Vamos sorrir e cantar
Lá lá lá lá Êi!
Lá lá lá lá Êi!
Lá lá lá lá lá lálálálálá Êi!

Só pra lembrar, eu tô aqui pra homenagear os pais ausentes.

Eu lembro que no dia em que divulgaram o resultado do vestibular, eu tava fora de Campo Grande. Quando eu voltei pra cá, no dia seguinte, meu pai foi me buscar na rodoviária e ali me deu um abraço apertado, muito feliz por aquela conquista. Foi um dos abraços dos quais nunca vou me esquecer. Por um descaminho do destino, no meu primeiro dia de aula, um semestre depois, ele não estava mais por aqui, tinha pegado o "trêm das sete", partido dessa pra melhor.

Mas meu velho me praparou bem pro momento da sua partida. Ele dizia sempre: "filho, um dia eu vou ter que ir embora".

Era até estranho conversar com ele sobre aquilo, mas foi daquela forma que ele conseguiu fazer com que eu me mantivesse forte diante daquela situação, que é muito difícil até hoje. Com sua forma de dialogar ele não só me preparou pra sua despedida, como também treinou muito bem meu olhar.

A ausência tem um outro significado quando você treina seus olhos pra enxergar além. Basta enxegar "além" e não "O além". Foi assim que percebi que a ausência é um mito criado por quem não percebeu que eles apenas estão em outro nível de consciência.

Meu pai deu um livro pro meu irmão chamado "O Pequeno Príncipe". Basicamente ele catequizou a gente com a doutrina daquele livro fininho que se lê em uma hora. O livro não tá mais lá em casa, mas a contracapa a gente guardou. É que nela, meu pai escreveu com sua caneta de pena, uma mensagem que explica muito desse misterioso espaço entre o céu e a terra.

Palavras de meu pai:

"O amor é a maior força do universo, o amor ultrapassa barreiras e fronteiras que o homem desconhece."

Essa frase carrega uma filosofia que me orienta e que pode ajudar a todos vocês que têm alguém "ausente".

Quando você percebe o Amor como uma força do universo (assim como existe a atração da gravidade, ou entre cargas opostas, ou entre o homem e a mulher) você SE descobre como resultado de toda essa equação. E você vê que tudo o que existe faz parte daquilo que você também é. O universo é Amor. Mas aí o papo fica metafísico e eu vou precisar de um quadro negro e giz, pra desenhar os átomos do amor.

Basta que a gente perceba que nada se cria, nada se destroi, tudo se transforma.

Todo mundo, quando passa pela Terra, deixa sementes de si mesmo. E por meio dos brotos que vencem o asfalto da vida, a gente consegue manter contato com aqueles que se tornaram invisíveis aos olhos.

A essência do meu pai se manifesta

> na felicidade do meu sorriso; na honestidade das minhas escolhas;
> na determinação e solidariedade da minha mãe;
> na confiança, algumas vezes cega, que um de meus irmãos deposita nas pessoas;
> na conduta exemplar com que o outro irmão dribla as adversidades no seu caminho;
> na parceria e sabedoria do meu avô;
> no aconchego do abraço da minha vó;
> na alegria das nossas reuniões em família;
> no vento que levanta uma pipa;
> no cheiro da gasolina,
> nas derrapagens de uma corrida de kart em dia de chuva
> e até na música que é vinheta do Bom Dia Brasil, que ele tinha que assistir todos os dias antes de me levar pra escola. (Ocasionando atrasos frequentes)

São valores, momentos, sentidos.

Por isso, eu digo a todos vocês que eu represento nesse momento e que têm alguém teoricamente "ausente":

A gente pode não perceber, mas eles também nos trouxeram até aqui. Esta vitória também é deles.

E depois de toda essa explanação, a minha consciência, que ainda está em processo de formação, chega ao veredicto:

A morte não existe.

A essência vence a ausência.

A vida é muito maior que qualquer discurso.

Ela não acaba no ponto final.

Agradeço.

André Patroni