quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O relógio e a ampulheta

Lá fora é breu, a noite é fria, escura e cinza
vejo nas frestas das cortinas entreabertas
enquanto me aquece o calor que emanana da lareira
e do aconchego dos parentes que a cercam

Nos seus olhos, enxergo o brilho da harmonia
e nos seus rostos, a sombra escura se desvanece
sorrisos largos, que há muito tempo se escondiam
ganham espaço pra explodirem em alegria

A porta fechada nos protege do silêncio
como as fitas de cetim, o conteúdo dos presentes
estes embrulhos só se rasgam na hora certa
enquanto cresce a curiosidade sobre ela

Poucos sabem dela, ou o motivo da insistência
que ela empenha no sumiço da existência
fato é que, ignoramos sua presença
pra suportar a dor que vem em nome dela

Mas hoje a dor está distante, entrou de férias
e ainda temos uns momentos que nos restam
por isso, o vinho está na taça que me serve
e os motivos de nosso choro são de festa

Enquanto abro caixas felizes que me deram
penso no que queria do conteúdo desses frascos
quem dera o presente nos fosse dado de presente
pra desfrutarmos outra vez do instante raro

As rugas mudam os principais significados
e as regras ficam mais exigentes com o empenho
diferentes daquelas que já estávamos acostumados
a burlar por motivos torpes que agora me escapam

Assim, os tique-taques mudam de instrumento
e de sentido, se observarmos com sutileza
uma hora a mais, no relógio antigo de parede
é um grama a menos na ampulheta sobre a mesa

Instante fugaz, contornos frágeis da eternidade
penso e desejo, como um conselho, para mim mesmo
que a gente saiba queimar o pavio do tempo escasso
ao lado de quem a gente ama de verdade

Enquanto se aproximam os lobos raivosos da saudade
ouço de longe seus uivos, e protejo a chama acesa
aqui dentro, o contentamento me ensurdece
aos silvos do vento, que anunciam a tempestade

André Patroni
Campo Grande, MS
08.12.2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

domingo, 23 de outubro de 2011

Dia de Samba


Foto feita durante a inauguração da nova sede da Escola de Samba Igrejinha. O sorriso dessas duas traduz o que o som do tambor proporciona.

sábado, 15 de outubro de 2011

Ajoelha

A subserviência diante dos grandes é covardia. Diante dos pequenos, humildade.
Diga-me para quem te curvas, que eu te direi se serás eleito.

Três pontos que conduzem a humanidade

Ciência                            .
Religião                           !
Filosofia                          ?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Análise

A grande mazela da escola moderna é que ela deveria ensinar perguntas, mas oferece respostas.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Discurso da formatura 2

Tempos atrás publiquei aqui o texto do meu discurso, que fiz em março em homenagem aos pais ausentes para a colação de grau da turma na qual me formei, a "Jornalismo UFMS 2010". Hoje deixo aqui o link para o vídeo que a Foco Imagem Produções fez, para que vocês vejam o maluco aqui cantando a música do Silvio Santos. Haha... Mas falando sério, espero que o discurso provoque bons sentimentos em você, e que chegue em um bom momento. Aí o vídeo:

Entrevista sobre o TCC

A convite do amigo Paulo Yafusso fui até à UCDB ser entrevistado pela primeira vez frente às câmeras. Hehe... foi uma experiência legal, apesar do suor que brotava das mãos enquanto esperava ser chamado pro palco.

Enfim, a ideia da entrevista era falar sobre o documentário que fiz de projeto experimental para me graduar em jornalismo pela UFMS. Depois que apresentamos a primeira vez o documentário "Assalto à Gameleira - a Escolha dos Filhos do Estatuto" em dezembro de 2010, continuamos tocando o barco e outras apresentações surgiram. Este ano, a convite principalmente de assistentes sociais de várias cidades, prefeituras nos levaram para exibir o filme para o pessoal que trabalha e constitui a rede de garantias na área da infância e adolescência.

Na época em que a entrevista foi gravada tínhamos ido a 14 cidades mais Campo Grande. No momento em que posto o vídeo aqui o número de cidades do interior subiu pra 15 (+ Campo Grande) e tivemos uma volta também, indo uma segunda vez para São Gabriel do Oeste, onde exibimos o vídeo para mais ou menos 900 alunos da rede pública de ensino em 8 exibições (inclusive em um assentamento nos arredores da cidade!).

Enfim, isso tudo é muito gratificante e mostra que vale a pena correr atrás de fazer um bom trabalho, se envolver com as histórias que nós, jornalistas, contamos e principalmente, que vale a pena ser cara de pau, como eu fui quando pedi pro Paulo Higa, hoje meu amigo, trabalhar nesse projeto comigo sem a promessa de qualquer retorno financeiro. Hehe.

É isso aí, quem quiser pode conferir a entrevista no vídeo abaixo (o documentário não posso postar no youtube, nem dar cópias, mas sempre que rola exibição eu divulgo no meu facebook e twitter - @andrepatroni).


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Onça's

Em uma manhã de segunda-feira recebi a visita do meu amigo Alexander Onça acompanhado de seu filho, Mateus, um figurinha! Aproveitei pra testar minha câmera.

http://www.vimeo.com/28448967

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Inspirações do cotidiano 02

Rolou uma exposição de obras de arte no Estoril, onde trabalho fazendo assessoria de imprensa. Havia várias obras, entre esculturas e telas. Conversando com os artistas percebi que alguns deles começaram a pintar em função de acontecimentos tristes. Admirei o processo de transformação daqueles sentimentos, como pessoas quem atravessam o submundo jogam o que tem dentro de si para a tela, para que aquilo seja apreciado pelo mundo. Aí, antes mesmo de escrever a matéria, escrevi os versos abaixo.

Da fruição

Quero te presentear com a essência invisível da minha memória
também quero te preencher com imenso vazio, que é um fardo de peso
quero embrulhar tudo isso em papel ordinário com laço imperfeito
junto a esse nada infinito que eu trago comigo guardado no peito

Quero arrancar o seu riso daquele fracasso e do seu pesadelo
que, outrora avalanche, cobriam, gigantes, a sua felicidade
vou descobrir seus fantasmas guardados no fundo do seu velho armário
e dispor diante dos olhos, que o haviam enterrado, o seu grande inimigo

Vou transformar um segundo em abismo profundo de plena demora
o tempo não passa agora, só ele dará fim ao seu desespero
o sadismo que move o pincel deixa a tela exposta qual ferida aberta
sentimentos flutuam e despencam, e desta montanha russa és um prisioneiro

O melhor e o pior do artista conjugam os verbos e tecem diálogos
que prendem atenção do sujeito que logo transforma o semblante e a si mesmo
assim como um vômito na tela vira pintura aplaudida e comprada
Quem a observa absorve, incorpora quem outrora acumulava sentidos


André Patroni
Campo Grande, MS
05.05.2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Discurso da formatura

Em março colei grau e me formei jornalista. As reflexões em decorrência disso eu posto aqui mais pra frente, ou não. Esse post na verdade é pra reativar esse blog que faz mais de um ano está parado. Toda vez que venho vê-lo me deparo com a foto da Monja Coen e isso me lembra que não o atualizo há muito muito tempo, aquele texto escrevi na época que estagiava na Sato Comunicação, nem na TV Morena tinha entrado (e olha que lá eu fiquei um ano).

Outro motivo é que agora tenho um texto que pode figurar por aqui. Não peguei o jeito de escrever periodicamente pra um blog, então fica difícil atualizá-lo. Tendo em vista isso, minha amiga Lais, que se formou comigo, sugeriu que postasse meu discurso da cerimônia de colação de grau, que fiz em homenagem aos pais ausentes. Teve um pessoal que curtiu as palavras então pode ser que você que passar por aqui também goste.

Infelizmente não sei se alguém filmou, queria mesmo ver, não por narcisismo, mas porque deve ter sido hilário ver um formando cantando a musiquinha do Silvio Santos, ainda mais por ser eu esse universitário. Haha. Espero que a empresa que a comissão de formatura contratou não dilacere o discurso, queria mesmo vê-lo inteiro.

Enfim, está aí o discurso! Espero que venha até você no momento certo.

Ah, só pra explicar, como eu não queria fazer um texto que deixasse as pessoas mais pra baixo que alguém que perdeu um parente, e para quebrar o gelo de um discurso frente a uma grande plateia, comecei de um jeito um tanto inusitado...

Eis o texto do discurso:

Lá lá lá lá Êi!
Lá lá lá lá Êi!
Lá lá lá lá lá lálálálálá Êi!
Agora é hora de alegria
Vamos sorrir e cantar
Da vida não se leva nada
Vamos sorrir e cantar
Lá lá lá lá Êi!
Lá lá lá lá Êi!
Lá lá lá lá lá lálálálálá Êi!

Só pra lembrar, eu tô aqui pra homenagear os pais ausentes.

Eu lembro que no dia em que divulgaram o resultado do vestibular, eu tava fora de Campo Grande. Quando eu voltei pra cá, no dia seguinte, meu pai foi me buscar na rodoviária e ali me deu um abraço apertado, muito feliz por aquela conquista. Foi um dos abraços dos quais nunca vou me esquecer. Por um descaminho do destino, no meu primeiro dia de aula, um semestre depois, ele não estava mais por aqui, tinha pegado o "trêm das sete", partido dessa pra melhor.

Mas meu velho me praparou bem pro momento da sua partida. Ele dizia sempre: "filho, um dia eu vou ter que ir embora".

Era até estranho conversar com ele sobre aquilo, mas foi daquela forma que ele conseguiu fazer com que eu me mantivesse forte diante daquela situação, que é muito difícil até hoje. Com sua forma de dialogar ele não só me preparou pra sua despedida, como também treinou muito bem meu olhar.

A ausência tem um outro significado quando você treina seus olhos pra enxergar além. Basta enxegar "além" e não "O além". Foi assim que percebi que a ausência é um mito criado por quem não percebeu que eles apenas estão em outro nível de consciência.

Meu pai deu um livro pro meu irmão chamado "O Pequeno Príncipe". Basicamente ele catequizou a gente com a doutrina daquele livro fininho que se lê em uma hora. O livro não tá mais lá em casa, mas a contracapa a gente guardou. É que nela, meu pai escreveu com sua caneta de pena, uma mensagem que explica muito desse misterioso espaço entre o céu e a terra.

Palavras de meu pai:

"O amor é a maior força do universo, o amor ultrapassa barreiras e fronteiras que o homem desconhece."

Essa frase carrega uma filosofia que me orienta e que pode ajudar a todos vocês que têm alguém "ausente".

Quando você percebe o Amor como uma força do universo (assim como existe a atração da gravidade, ou entre cargas opostas, ou entre o homem e a mulher) você SE descobre como resultado de toda essa equação. E você vê que tudo o que existe faz parte daquilo que você também é. O universo é Amor. Mas aí o papo fica metafísico e eu vou precisar de um quadro negro e giz, pra desenhar os átomos do amor.

Basta que a gente perceba que nada se cria, nada se destroi, tudo se transforma.

Todo mundo, quando passa pela Terra, deixa sementes de si mesmo. E por meio dos brotos que vencem o asfalto da vida, a gente consegue manter contato com aqueles que se tornaram invisíveis aos olhos.

A essência do meu pai se manifesta

> na felicidade do meu sorriso; na honestidade das minhas escolhas;
> na determinação e solidariedade da minha mãe;
> na confiança, algumas vezes cega, que um de meus irmãos deposita nas pessoas;
> na conduta exemplar com que o outro irmão dribla as adversidades no seu caminho;
> na parceria e sabedoria do meu avô;
> no aconchego do abraço da minha vó;
> na alegria das nossas reuniões em família;
> no vento que levanta uma pipa;
> no cheiro da gasolina,
> nas derrapagens de uma corrida de kart em dia de chuva
> e até na música que é vinheta do Bom Dia Brasil, que ele tinha que assistir todos os dias antes de me levar pra escola. (Ocasionando atrasos frequentes)

São valores, momentos, sentidos.

Por isso, eu digo a todos vocês que eu represento nesse momento e que têm alguém teoricamente "ausente":

A gente pode não perceber, mas eles também nos trouxeram até aqui. Esta vitória também é deles.

E depois de toda essa explanação, a minha consciência, que ainda está em processo de formação, chega ao veredicto:

A morte não existe.

A essência vence a ausência.

A vida é muito maior que qualquer discurso.

Ela não acaba no ponto final.

Agradeço.

André Patroni