sexta-feira, 6 de maio de 2011

Inspirações do cotidiano 02

Rolou uma exposição de obras de arte no Estoril, onde trabalho fazendo assessoria de imprensa. Havia várias obras, entre esculturas e telas. Conversando com os artistas percebi que alguns deles começaram a pintar em função de acontecimentos tristes. Admirei o processo de transformação daqueles sentimentos, como pessoas quem atravessam o submundo jogam o que tem dentro de si para a tela, para que aquilo seja apreciado pelo mundo. Aí, antes mesmo de escrever a matéria, escrevi os versos abaixo.

Da fruição

Quero te presentear com a essência invisível da minha memória
também quero te preencher com imenso vazio, que é um fardo de peso
quero embrulhar tudo isso em papel ordinário com laço imperfeito
junto a esse nada infinito que eu trago comigo guardado no peito

Quero arrancar o seu riso daquele fracasso e do seu pesadelo
que, outrora avalanche, cobriam, gigantes, a sua felicidade
vou descobrir seus fantasmas guardados no fundo do seu velho armário
e dispor diante dos olhos, que o haviam enterrado, o seu grande inimigo

Vou transformar um segundo em abismo profundo de plena demora
o tempo não passa agora, só ele dará fim ao seu desespero
o sadismo que move o pincel deixa a tela exposta qual ferida aberta
sentimentos flutuam e despencam, e desta montanha russa és um prisioneiro

O melhor e o pior do artista conjugam os verbos e tecem diálogos
que prendem atenção do sujeito que logo transforma o semblante e a si mesmo
assim como um vômito na tela vira pintura aplaudida e comprada
Quem a observa absorve, incorpora quem outrora acumulava sentidos


André Patroni
Campo Grande, MS
05.05.2011